Você já se perguntou como funciona a memória no
aprendizado de inglês? Neste texto vou falar um pouquinho sobre isso. Espero
que você tenha paciência para ler até o fim. O objetivo é ajudar você a
entender – mesmo que superficialmente – o que acontece dentro
de sua cabeça quando você aprende inglês.
Para simplificar, o texto está assim dividido:
1.
Falando sobre memória: os dois
principais sistemas que temos
2.
A Memória no Aprendizado da Língua
Materna
3.
A Memória no Aprendizado do Inglês
É importante que você
leia cada parte para entender como funciona a memória no aprendizado de
inglês. Vamos lá!
Falando sobre Memória
De modo geral, a memória é dividida em dois
principais sistemas: memória declarativa e memória
procedimental. Esses dois sistemas armazenam informações diferentes.
Então, vamos aprender um pouquinho sobe elas.
» Memória Declarativa
» Memória Procedimental
Por sua vez, a memória procedimental está
relacionada aos procedimentos da vida. Ou seja, ela armazena às coisas que
fazemos sem nos perguntarmos como fazemos. Se você sabe andar de bicicleta,
dirigir, tocar um instrumento e coisas do tipo agradeça a sua memória
procedimental. Esses procediments envolvem passos que devem ser seguidos e é na
memória procedimental que isso tudo fica guardado. É o nosso piloto automático.
Se deixarmos de fazer algum desses procedimentos por muito tempo, podemos
esquecê-los. Ou como dizemos, perdemos a prática.
A Memória no Aprendizado da Língua
Materna
De acordo com pesquisadores na área*, o
aprendizado de nossa língua materna (no nosso caso o português) está
diretamente ligado a esses dois sistemas.
Quando aprendemos uma palavra ou uma expressão
nova, ela é diretamente registrada em nossa memória declarativa. As
palavras e expressões (o que podemos chamar tecnicamente itens lexicais) são registradas em nossa memória declarativa
conforme nos envolvemos mais e mais com a língua. É assim que aprendemos
nossa própria língua.
Quando aprendemos uma gíria, palavra ou expressão
nova ou sem querer aprendemos uma canção cuja letra é contagiosa,
significa que a memória declarativa registrou a informação. Para que isso
acontecesse, essa expressão ou parte da canção deve antes aparecer várias vezes
em nossa frente para que possamos memorizá-la (mesmo sem querer!).
Recentemente, a gíria “É nóis!” passou a fazer parte do vocabulário de
boa parte dos brasileiros. Até quem acha isso errado e ridículo, acaba – mesmo
que seja em tom irônico – usando essa gíria uma hora ou outra.
Quando a memória declarativa não sabe algo, ela
meio que trava. Afinal, ela não identifica aquilo. Não encontra-se
registrado lá dentro. Por exemplo, se eu digo a você que na frente da minha
casa tem um pé de goiaba maceta, você sabe o que eu quero dizer? “Maceta”
em alguns locais da região norte do Brasil (aqui em Porto Velho, Rondônia,
por exemplo) significa “muito grande”. Podemos dizer que alguém tem
“um pé maceta”, “uma mão maceta”, “uma casa maceta”
etc.
Enfim, agradeça a sua memória declarativa por você
ser capaz de falar e entender português. Mas, quando alguém falar algo que você
não entende, não se preocupe. Trata-se apenas de algo novo que sua memória terá
de aprender.
A memória procedimental é a
responsável – adivinhe só! – pelo aprendizado da
gramática. Mas, vamos com calma! Pois, não não se trata da gramática
das regras e termos técnicos. Afinal, você não estudou gramática quando
começou a soltar suas primeiras palavras, frases e sentenças em português.
Acontece que enquanto você crescia, você estava
aprendendo a caminhar, correr, pegar as coisas, falar e – rufem os
tambores! –a gramática natural da língua portuguesa. Sua memória
procedimental estava registrando a ordem na qual os itens lexicais são
colocados quando usados na prática. Tudo isso de foi aprendido naturalmente
como um procedimento e colocado em prática até hoje de modo automático.
Saiba que neste exato momento, sua memória procedimental
– a que cuida da gramática natural – está trabalhando
para que você entenda este texto. Mas, palavras a das inverter eu ordem se, ela
se perde e o ritmo da leitura diminui.
Sua memória declarativa até
reconhece as palavras em “palavras a das inverter eu ordem se”. No
entanto, suamemória procedimental nota que a ordem não está
correta, deixando a frase incompreensível. Se colocarmos em ordem, tudo volta
ao normal: se eu inverter a ordem das palavras.
É na memória procedimental que
estão guardados – mesmo sem você saber – os procedimentos
naturais de uso da nossa língua materna. Esses procedimentos são chamados de gramática
natural, gramática de uso ou ainda gramática
internalizada. Tudo isso se refere à gramática que temos dentro de
nossa cabeça e que faz com que nós sejamos capazes de usarmos nossa língua em
conversas, textos etc.
A Memória no Aprendizado de Inglês
Os mesmos pesquisadores (depois seguidos por
outros) decidiram pesquisar como esses dois sistemas funcionam quando
alguém fala (ou aprende) uma segunda língua – o inglês sendo o
nosso caso. De cara, eles notaram que o modo como as informações são
organizadas por uma falante não-nativo é bem diferente daquele
dos falantes nativos.
A primeira grande diferença estava relacionada justamente
ao modo como a gramática é aprendida (internalizada). No caso de um
falante nativo, a gramática é adquirida naturalmente. Não há a necessidade de
decorar regras. O uso natural da língua ocorre sem esforço. A pessoa de tanto
conviver som a língua, acaba pegando o jeito da gramática natural.
Esses pesquisadores notaram que a “correção”
(ou reaprendizado) ocorre primeiro na memória declarativae
só depois se torna automática. No entanto, é algo que a pessoa memorizou como
um fato da vida; portanto, não é algo que foi diretamente
para a memória procedimental. A pessoa simplesmente suprimiu
um hábito e adquiriu outro.
Com isso, esses pesquisadores perceberam que no
caso do aprendizado de uma segunda língua, a memória declarativa desempenha um
papel grandioso. Eles afirma que as pessoas deveriam focar muito mais
no aprendizado de itens lexicais (expressões, frases, sentenças, palavras,
collocations etc. – formulaic language) do que na decoreba de regras
gramaticais presentes em livros.
As regras e termos gramaticais é
apenas um conjunto de informações que fica registrado na memória, mas não gera
o resultado que deveria: comunicação imediata. Já a gramática
de uso deve ser adquirida de acordo com o envolvimento com a língua
por meio do aprendizado de frases, sentenças, expressões, collocations
etc., que são aprendidos dia após dia de acordo com situações específicas.
Em termos práticos, a ideia é que um aprendiz de
inglês como segunda língua (ou língua estrangeira) deva aprender a
gramática sem aprender gramática. Ou seja, aprender a gramática de uso (a
gramática natural) e não a gramática normativa (a das
regras e termos técnicos em livros). Por quê?
Pelo simples fato de sua memória
procedimental não ser capaz de automatizar de modo imediato a
gramática da nova língua. Assim, o ideal é que o aprendiz dedique-se primeiro a
aprender muitos itens lexicais (chunks of language, formulaic language)
e somente depois (nos níveis mais avançados do aprendizado) se dedique
– caso queira – ao estudo da gramática normativa.
Conclusão
Este assunto gera muita discussão. Contudo, o
que sabemos hoje sobre como a memória funciona no aprendizado de inglês (ou
de línguas de modo geral), ajuda-nos e desenvolver novas técnicas, métodos
e abordagens de ensino de línguas. Podemos deixar de lado a ideia de
que aprender uma outra língua se resume a decorar 2000 palavras em inglês e um conjunto de regras presentes em um
livro.
O papel da memória declarativa no aprendizado
de outra língua é fundamental para ensinarmos adequadamente indivíduos que
passaram da puberdade. Isso significa que a ideia de que após uma determinada
idade não dá mais para aprender uma outra língua é totalmente questionável.
Isso, no entanto, já é outro assunto. Então, vamos parar por aqui!
Referências
* Tomei aqui como
referência os trabalhos dos pesquisadores e autores Dr. Michael Ullmann (neurocientista)
e Dr. Steve Pinter (psicolinguista).
Abaixo alguns artigos e livros que podem ajudar os mais curiosos a se
aprofundarem nesses mistérios.
§ A cognitive neuroscience perspective on second
language acquisition: The declarative/procedural model (Michael Ulmann)
§ A neurocognitive perspective on language: The
declarative/procedural model (Michael
Ulmann)
§ Contributions of memory circuits to language: The
declarative/procedural model (Michael
Ulmann)
§ Declarative and Procedural Determinants of Second
Languages (Michael Paradis)
§ How Languages Are Learned – third edition (Patsy M Lightbown & Nina Spada)
§ Lexical Priming: a new theory of words and language (Michael Hoey)
§ The Study of Second Language Acquisition – second
edition (Rod Ellis)
A dica A Memória no Aprendizado de Inglês foi publicado originalmente no site Inglês na Ponta da Língua e
é de autoria do prof. Denilso de Lima
Postado por Adirene Morais, Moderadora do Grupo Professores Solidários, em 10/01/2016
Sem comentários:
Enviar um comentário